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28.10.03
Já falei que sou ímã de maluco? E ainda dizem que a culpa é minha porque eu dou papo. Confesso que às vezes dou mesmo, acho muito constrangedor quando alguém puxa assunto, mesmo que seja um estranho, e muitas vezes acabo sendo a única que não desvia o olhar. E cruzar o olhar é fatal: o chato identifica a vítima e não larga mais.
(mas eu sempre desvio o olhar quando é criança. Odeio quando alguém com criança de colo senta na minha frente no ônibus, e deixa a criança de virada pra mim, fazendo gracinhas. Você tem a obrigação de corresponder, e eu não consigo achar a menor graça em gracinha de criança. Finjo que não estou vendo, e o ônibus todo me olha de cara feia, como se fosse um crime ignorar uma criança chata. Mas não é sobre isso que estou falando agora, voltemos ao assunto)
Eu dizia que muitas vezes dou papo pra esses chatos que puxam assunto com estranhos na rua. Mas hoje eu saquei que o caso era sério, quando o homem sentou do meu lado no metrô, na estação Presidente Vargas, anunciando: "Presidente Vagas! Vagas! Presidente Vagas!". Como não tinha nada pra ler, fechei os olhos e fingi que estava dormindo. Tem que ser muito inconveniente pra puxar assunto com alguém que está dormindo. O homem começou a me chamar: "menina! ei menina!". O cara foi esperto, me chamou de menina, quase sucumbi à vaidade, mas resisti e continuei fingindo um sono profundo. Mas ele insistiu, e resolvi que se respondesse, ele pararia de gritar.
- Menina!
- Ahn?
- Já são dez horas no Ceará?
Juro. O cara me acordou pra isso. Quer dizer, não me acordou porque eu não estava dormindo, mas se estivesse, ele teria me acordado. Pra saber se já eram dez horas no Ceará.
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