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   20.12.03  
Sala de espera

É fácil identificar os novatos. As famílias que estão ali pela primeira ou segunda vez. São muitos, chegam afobados, conversam entre si, ocupam vários dos poucos lugares da sala, praticamente ignoram as outras famílias. Ainda não compreendem bem a dinâmica das visitas, discutem com os médicos. Nos dias seguintes, são ainda mais numerosos, aparecem primos mais distantes, tias, amigos. Depois dos primeiros dias, a família numerosa e ruidosa se reduz a um pequeno núcleo. Normalmente a mulher ou marido do paciente e os filhos. Em alguns casos, os netos. Em pouquíssimos, os pais. Porque a vida das pessoas não pode parar, o horário de visita é restrito e dificílimo para quem precisa trabalhar. Porque a doença, infelizmente, aos poucos deixa de ser uma coisa excepcional, o parente no hospital passa a fazer parte da vida diária. É triste, mas é como funciona. Porque os outros, os que estão do lado de fora, também precisam de atenção.

Mas os que resistem deixam de ser desconhecidos. Ainda que não se tornem amigos, a convivência de poucas horas diárias e a certeza de que estão na mesma situação cria uma certa cumplicidade entre todos. E envelhecem juntos. Porque não há como disfarçar o sofrimento. Não adianta secar as lágrimas, forçar um sorriso, fingir um ânimo que não se tem: o peso do sofrimento num corpo não pode ser apagado.

Na segunda semana, as pessoas passam a ter nome, endereço, particularidades. A nora que fala alto e discute com as enfermeiras. O filho que chega correndo, direto do trabalho. A mulher que sempre chega muito cedo, com medo de perder a hora. A filha que esquece a própria doença e não deixa de ir nem um dia. A irmã que vem de longe, de trem. A filha que só acompanha a mãe e não tem coragem de entrar no quarto para ver o pai. A que leva chocolate para o médico (e os que trocam olhares como se dissessem que essa vai perder o pai, mas conseguir um marido). Tem os que choram o tempo todo e os que entram e saem calados.

Quando chegam, cumprimentam os outros. Procuram notícias, não só do seu familiar, mas dos outros. Se alegram pelos que melhoraram, consolam as famílias dos que não. Estranham quando alguém não aparece. Na terceira semana, já aprenderam que a ausência pode ser um bom sinal. Ou exatamente o contrário.

Na quarta semana, apareceu um presépio na entrada da sala. No teto e nas paredes, enfeites natalinos. Nos vidros que dividem os leitos alguém pintou em letras douradas: "Feliz Natal". Mas na quinta semana, poucos ainda têm tanta esperança.