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13.1.04
Cada um tem o sonho que merece?
Tem gente que sonha com Lutero (de boina e tudo) e Paulinho da Viola. Tem gente que sonha com a Wanessa Camargo e o mordomo do Guilherme Karam. E tem gente que sonha que está num campo de concentração.
Mas era um campo de concentração bonitinho, todo gramado, florido, e quem passasse por ali nem diria que era um campo de concentração. Mas era. Posso falar com certeza, porque eu estava lá, e a angústia não deixava dúvidas. (Atenção crianças, ler muito Primo Levi faz mal à saúde mental). Aí um dia eu recebia autorização para ir, acompanhada dos guardas, a um bar que tinha ao lado do campo, pra beber um refrigerante. Chegando lá, pessoas conhecidas bebiam e conversavam. Uma delas estava comendo um sonho (o doce) e bebendo coca-cola. Eu ficava desesperada, porque queria muito o sonho. Queria muito, muito, muito mesmo. Eu pedia, mas todos tentavam me ignorar, e se entreolhavam assustados, porque não tinham permissão para falar comigo. Até que eu me desesperei de vez e tentei arrancar o sonho à força, brigando, batendo nas pessoas. Mas não consegui. E nem coca-cola pude tomar, porque só me deram autorização para tomar um guaraná caçula (aquela garrafinha pequenininha). Eu tomava, de canudinho, quietinha num canto e voltava pro campo.
Enquanto isso, minha analista está sabe-se lá onde, aproveitando as férias.
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