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22.1.04
"Já tentei me pôr a par do mundo, e ficou apenas engraçado: uma de minhas pernas sempre curta demais. O paradoxo é que minha condição de manca é também alegre porque faz parte dessa condição. Mas se me torno séria e quero andar certo com o mundo, então me estraçalho e me espanto. Mesmo então, de repente, rio de um riso amargo que só não é um mal porque é de minha condição. A condição não se cura, mas o medo da condição é curável." (Clarice Lispector)

Poderia falar muito sobre o filme. Na hora, nem achei tão bom assim, mas algumas cenas não saem da cabeça, e não dá pra negar a identificação que em certas horas é até literal. Cada vez que lembro, gosto mais. Mas no fundo não tenho muito o que falar (ou não quero?), assim como não tento mais me livrar dessa sensação estranha que, afinal, não vai me abandonar nunca. Porque nem precisa ser num quarto de hotel. Nem precisa ser do outro lado do mundo.
E perceber que andar certo com o mundo sempre vai acabar em estraçalhamento é a grande lição que eu deveria ter aprendido nos últimos anos. Aceitar a condição, que não se cura. E tentar curar o medo.
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