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23.6.06
O dia em que eu odiei a Copa
As crianças começam com as malditas cornetas às oito da manhã. É o que lá em casa a gente chamava, ironicamente, de "alvorada festiva". Nem sei se são as crianças mesmo. Mas prefiro pensar que sim. Porque a outra opção - adultos tocando corneta desde as oito da manhã - seria absurda demais pra mim. Mas não é isso que me fez odiar a copa. Só estou falando isso pra deixar claro que nem cornetas às oito da manhã me irritam.
Mas é que hoje eu tinha consulta. E minha pressão subiu muito. Entre outras coisinhas. Que não vou detalhar, mas que adiantaram a minha data prevista para o parto. E preciso fazer repouso de verdade agora. É de se entender que eu não tenha saído do consultório com muito clima de jogo. Daí fui andando pro metrô. Louca para chegar em casa. E com aquela sensação de que era a única pessoa na rua que não estava de verde e amarelo. Quando entrei na estação, peguei o telefone pra ligar pro meu marido ou pra minha mãe, pra contar da consulta e conversar um pouco. Mas o trem já estava na plataforma e resolvi entrar logo, pra chegar mais rápido. E fiquei lá, sentada, segurando a barriga e contando as estações. Até que chegou na cinelândia. E foi aquela invasão. Dia de jogo, todo mundo liberado mais cedo, duas da tarde virou hora do rush. O trem lotado, uma gritaria infernal, pessoas tocando corneta, todo mundo de verde e amarelo, animadíssimos, parecia que o jogo seria no maracanã e estava todo mundo indo assistir ao vivo. Na Carioca a situação piorou. Nunca me senti tão na contramão. Aquela gente toda em cima de mim, o barulho, tudo, tudo. Só sei que entrei em pânico. Comecei a tremer e tudo mais. E a segurar o choro. E minha barriga começou a doer. Nunca quis tanto chegar em casa. E comecei ali, naquele momento, a pensar seriamente em torcer pelo Japão.
(não torci, claro. mas acho que deu pra entender meu ponto.)
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