É público e notório que, quando você tem um filho, tem que se preparar para os palpiteiros de plantão. Todo mundo tem um conselho, uma dica, uma sugestão. Só que eu achava que "todo mundo" queria dizer avós, tias, tios, amigos. Pessoas com quem você tem alguma intimidade. Que conhecem sua filha. São bem intencionadas (ainda que, às vezes, um pouco desatualizadas). Mas não. Todo mundo é todo mundo mesmo. Não acredita? Passa dez minutos comigo na rua pra ver só:

Cena 1: Eu e Joana na pracinha. Joana dorme no carrinho. A cabecinha na sombra, as perninhas no sol. Uma moradora de rua (ou melhor, da praça) se aproxima. Olha para dentro do carrinho por longos segundos.
- Parabéns. Seu bebê é lindo.
- Obrigada.
- É menino ou menina?
- Menina. (nota mental: preciso furar logo essa orelha!!)
- Muito linda mesmo. Mas você não devia deixar ela no sol assim.
- Ah, mas ela precisa ficar todo dia um pouco no solzinho.
- Mas você não devia. O bebê não gosta.
- ... (sim, ela não gosta, por isso que está dormindo calmamente)
- Não é mais hora de bebê estar no sol.
- É, realmente.
- Você só pode deixar ela ficar no sol até sete horas!
- Ok, vou lembrar disso.
- Então, tchau!
- Tchau!


Cena 2: Hora de voltar pra casa. Paro na carrocinha de água de coco. Peço um copo. Uma senhora, sentada no banco ao lado da carrocinha, vê o carrinho e se aproxima. Joana está acordada, quietinha e sorridente:
- Que gracinha!
- *sorriso*
- É menino ou menina?
- Menina. (preciso MESMO furar essa orelha)
- Tem que dar água de coco pra ela também, é bom.
- Ah... *cara de paisagem*
- Ela não toma água não?
- Não. Ela é muito pequenininha. E só toma leite do peito.
- Quantos meses ela tem?
- Três.
- Então já pode tomar água de coco. Você devia dar, é bom.
- Mas não precisa não, sabe?
- Ela deve estar com sede.
- ... (sim, ela está morrendo de sede, por isso que está calma e sorridente)
- Eu já tive criança em casa. Eu sei o que estou falando.
- Hmmm.
- É bom dar pra ela acostumar. É bem docinha, os bebês gostam.
- Ok, vou lembrar disso. Agora tenho que ir. Tchau!