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30.6.05
Existem três tipos de férias.
As férias ideais, restritas aos sortudos que tem dinheiro e companhia para viajar. As férias práticas, quando fazemos tudo que a falta de tempo não permite fazer no resto do ano: visitar amigos, ir ao médico, arrumar armários, ler dezenas de livros, assistir centenas de filmes, consertar a pia que está pingando há meses, ver exposições, tirar segunda via de documentos, aprender a costurar, pensar na vida e procurar outro emprego.
Todo mundo sonha com o primeiro tipo e, enquanto não é tão sortudo, se ilude dizendo que vai cumprir as metas do segundo. Quando na verdade todo mundo sabe que a gente vai mesmo é tirar o terceiro tipo de férias. As férias reais: dormir até tarde e passar o resto do dia no sofá assistindo porcaria na televisão e comendo.
Falta pouco. Mal posso esperar.
22.6.05
"Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar."
(Clarice Lispector, claro. Não sei porque ainda insisto em escrever. Tudo o que eu quero dizer ela já disse antes e melhor.)
21.6.05
"Li uma frase que dizia que culpa era uma mala muito pesada que a gente carregava durante a vida e para se livrar dela bastava depositá-la no chão e continuar andando." (li na Ma, e se não foi escrito pra mim, então não sei mais de nada).
Mas a gente sempre tende a pensar que é mais cômodo continuar com o peso. Afinal, se largarmos a mala no chão, teremos que aprender a andar sem ela. Porque pode ser um peso, mas é um peso que a gente conhece. E quem não consegue superar o medo vai sempre preferir um peso conhecido à uma leveza desconhecida.
17.6.05
Eu quero é ir-me embora Eu quero dar o fora E quero que você venha comigo
14.6.05
Eu sei que estou correndo o risco de passar por mentirosa. Mas eu juro que é tudo verdade. Aconteceu mesmo e tenho testemunhas. Eu nem ia colocar aqui. Mas resolvi que era uma boa oportunidade pra convencer quem acha que eu sou implicante. Pra ver se vocês acreditam em mim. Porque quando eu falo que o negócio é sério, é porque é sério mesmo. Sem brincadeira. Pode até parecer engraçado. Pra vocês, que estão aí de longe só se divertindo. Mas eu só tenho mesmo é vontade de chorar. (*)
Pois então. Era uma vez uma pessoa que sempre fazia as perguntas mais absurdas. Ela tinha dúvidas que você com certeza parou de ter na 1ª série. Muitas vezes era até difícil responder, porque ninguém consegue entender a lógica das perguntas, você nem mesmo consegue saber o que é que ela quer saber. E a cada resposta, ela se impressionava mais. "Nossa, mas como você sabe isso tudo? Você fez algum curso?". Lógico que a única resposta possível seria "Sim, fiz o CA.". Então é melhor não falar nada. Enfim.
Tudo caminhava bem até o dia em que ela resolveu ampliar seus horizontes. Ouviu falar num tal Oriente Médio. E chegou cheia de dúvidas.
- Qual a distancia dos estados unidos pro oriente médio? - Como assim? A distância em km? Não sei assim de cabeça. - Mas é muito longe? Ou é perto?
Aí já dá até pra duvidar que ela saiba o que é o Oriente Médio. Mas é o tipo de coisa que a gente tem até medo de perguntar. Vamos ser bonzinhos.
Olha essa mapa aqui. Aqui são os Estados Unidos, ok? E aqui, ó, é o Oriente Médio, que é uma região que blábláblá. Aí ela se empolgou, resolveu perguntar tudo.
Uma sede de saber insaciável.
E o Canadá, fica onde? Nossa, é aí, tão pertinho assim dos Estados Unidos?!?!
Ela realmente ficou impressionada. E começou a fazer perguntas tão idiotas ("E a África, onde é?"), que não resistiram e resolveram sacanear. Mostraram a França na África, a Inglaterra na Ásia, etc. E ela acreditando em tudo.
É, eu sei. Eu também fico com pena, a princípio. Mas aí...
"Por que a América Central se chama assim? Por que central? E tem América do Sul também, né? Por quê?"
Claro que pra responder uma pergunta dessa, só com desaforo. Não pensem que ela estava questionando o eurocentrismo dos mapas, a convenção que faz a Europa ficar no centro e no alto, etc e tal. Não se iludam. Ela não sabia mesmo o que era norte e sul.
Então vamos pra América do Sul. Tem o Brasil, né, fica mais fácil. Ah, tolinhos que acreditaram nisso. Além de não saber localizar o Rio de Janeiro, ela não conseguiu mostrar o Oceano Atlântico. Depois de muito esforço definiu que o oceano ficava em volta do país inteiro. Veja só. O Brasil virou uma ilha e ninguém nos avisou.
Aí o assunto foi rolando e acabou caindo na colonização do Brasil. Acho que chegou nisso porque ela não sabia onde era Portugal (mas também, que idéia fazer uma pergunta dessa, hein?) Melhor começar do começo:
- Quem descobriu o Brasil? - Ah, isso eu sei! Pedro Álvares Cabral!
Todos juntos: êêêêêêêê!!! \o/
(por favor, vamos admitir que foi Pedro Álvares Cabral que descobriu o Brasil, estamos na lição 1, entendam).
- E ele era o que? - ... - Saiu de onde? Hein? Hein? - Não sei.
Essa não funcinou. Tentemos outra abordagem. Quem sabe ela consegue ligar "português" com "Portugal". Quem sabe, né?
- Que língua você fala? - Brasileiro!!
Eu mereço. Eu sei que eu mereço.
(*)E se você soubesse que ela faz faculdade (!) e ainda tem um emprego melhor do que o de muita gente boa por aí (né, Nanda?), talvez parasse de rir também.
10.6.05
Eu te amo e vou gritar pra todo mundo ouvir
Para uma pessoa muito especial: Parabéns! Eu sei o quanto você merece. Isso e muito mais. Estou feliz e orgulhosa por você. 
9.6.05
Entendeu ou quer que eu desenhe?
Eu tento. Juro que tento me comunicar com as pessoas. Mas é difícil. Claro que se eu tento passar uma mensagem para um grupo e ninguém entende, o erro deve estar no meu enunciado. Na forma como eu falei, nos códigos que usei, alguma coisa assim. Assumo a responsabilidade. A gente tem que adaptar o discurso à platéia, essas coisas. Aí eu adapto. Desisto de ser simples e direta. Escrevo tudo bem explicadinho. Resisto à tentação de perguntar no final se querem que eu desenhe. Mas explico tudo bem detalhadamente mesmo. Pra não ficar dúvida.
E eles continuam sem entender.
E aí realmente eu penso em desistir.
Mas não desisto. E faço o que desde o início eu tinha decidido que não ia fazer: preparo um modelo. E digo: é pra fazer igualzinho a esse aqui. Não gosto de fazer isso, porque significa que, mais uma vez, eles venceram. E aqui estou eu fazendo o trabalho que é deles. Mas ok. Desde que assim a coisa ande, não me importo mais.
Só que não anda.
E aí, fica muito difícil. Não posso mais perguntar se querem que eu desenhe. Porque eu já desenhei. Passei a mensagem pra outras pessoas, de fora do grupo, pra verificar se eu estava me expressando tão mal assim. Todos entenderam.
Então, realmente, eu não sei mais o que fazer. Eu desisto. Pronto. Jogo a toalha. Chega.
(Mas nem foi isso que me deixou de mau-humor. Foi a porcaria da minha sandália que arrebentou.)
7.6.05
Definitivamente, meu ouvido é penico
Duas mulheres. Magras. Uma estufa a barriga inexistente, faz cara de pavor e comenta que gostaria de ser bulímica. A outra diz que "se não fosse doença, até que seria uma boa idéia. Meter o dedo na goeela..." Aí percebe que tem gente escutando e completa, com um sorriso amarelo: "que bonito, eu, uma psicóloga, falando isso". Daí resolve que não tem porque mentir. "Meter o dedo na goela eu não digo, mas um laxantezinho eu confesso que tomo." Aí a outra se anima, "ah, mas claro! Laxante não pode faltar." Me retiro do local tentando entender porque pessoas que não comem precisariam de laxante.
2.6.05
Melinda e Melinda. Não que seja ruim. Mas se você quer um filme do woody allen atual e realmente bom, melhor ir direto a Comme une image. Que não é do woody allen. Mas vocês entenderam.
Eu disse que eu tinha medo
Hoje meu pior pesadelo se concretizou.
Felizmente, com outra pessoa. Uma mulher ficou presa no maldito vão entre o trem e a plataforma. Não precisa dizer que foi na temida estação em curva.
Ainda bem que eu já aperfeiçoei meu andar "robozinho" pra entrar no vagão. Uma técnica cada vez mais apurada. :)
Que preguiça, hein?
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